é a economia, estúpido

gustavo s de borba
2 min readJan 19, 2024

Perdi as contas do número de vezes que ouvi essa frase, especialmente em conversas envolvendo priorização de investimentos, quando discutimos necessidades sociais em um contexto de orçamento limitado.

A frase foi cunhada na época da campanha de Bill Clinton, que concorria ao governo americano, e representava um dos focos da campanha em tempos de recessão. Virou uma frase de efeito, com um impacto importante no contexto eleitoral, mas que entrou em nosso dia a dia como uma forma de finalizar conversas e discussões. Pode-se dizer que muitas vezes entrou em nosso dia a dia como uma maneira de reduzir a criatividade, o debate coletivo, os espaços de transformação que priorizam a humanidade, “dando a real”, pois no final do dia, “é a economia, estúpido”.

Fiquei pensando nessa frase no contexto que estamos vivendo em Porto Alegre.

Um contexto em que pessoas, famílias, comunidades, estão sentindo as dificuldades que foram potencializadas pelo mais recente temporal no Rio Grande do Sul. Nos últimos dias tenho caminhado pela cidade e ouvido alguns relatos bastante impactantes. Pessoas que perderam muita coisa, incluindo coisas básicas como alimentos. Pessoas que não conseguem dormir devido ao calor, a falta de luz e a falta de água para se refrescar em um bom banho.

Na realidade, o que vivemos neste e em tantos outros eventos climáticos, é sim resultado da economia, especialmente quando olhamos para estes fenômenos a partir da forma como entendemos o desenvolvimento. Essa compreensão pode passar pelo debate sobre a privatização das empresas, assim como passa pelo nosso entendimento dos potenciais impactos ambientais que fingimos não ver por tanto tempo.

Talvez a melhor frase para ressignificar essa compreensão da economia esteja relacionada a uma palestra que assisti recentemente do grande ativista global Satish Kumar (https://www.youtube.com/watch?v=BVM2FGy4LBk): A economia é estúpida.

Ao longo do tempo criamos possibilidades de devastação ambiental, de destruição do coletivo e de priorização do individual. E quando vivemos momentos assim, vemos a importância da comunidade, da colaboração, de compreendermos que somos natureza também.

As pessoas, não são estúpidas e não podem ser reduzidas a seu valor de “uso”, tão pouco deveriam ser qualificadas assim. As coisas, as máquinas, essas sim podem ser “estúpidas”.

Fico pensando nestas horas em quantas pessoas tentaram perguntar ao ChatGPT o que fazer. Nessa hora, quem sabe como agir somos nós, humanos, parte da natureza. E talvez por isso consigamos mitigar os impactos destes desastres.

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Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

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