Yo-Yo Ma
“Você tocando é o melhor argumento que já ouvi para justificar a existência de Deus, pois eu não acredito que um humano sozinho possa fazer isso”. Essa frase é atribuída a Steve Jobs, em conversa com o Violoncelista Yo-Yo Ma.
Eu sempre pensei nisso, a medida que ia descobrindo as diferentes possibilidades da música de Yo-Yo e também as diferentes sonoridades possíveis a partir de um único instrumento, o Violoncelo.
Semana passada estávamos em Austin, finalizando o SXSW Edu. Eu sabia que ele faria um concerto na Universidade do Texas, mas como acontece atualmente, ingressos esgotados e os poucos disponíveis estavam superfaturados na internet. Tentei comprar até as 19:25, quando os ingressos foram baixando, mas ainda acima do que podíamos pagar. Resolvemos ir ao local do evento e tentar na hora. Uma chance em um milhão. Chegamos lá e a estudante que nos atendeu disso que tinha 2 ingressos disponíveis, na orquestra, mais próximo ao palco. O preço, 25% do que estava sendo praticado na internet pouco tempo antes. Compramos, e entramos um pouco atrasados, ao som da Suite №1 em Sol Maior de Bach, a música que mais amamos ouvir no Vioncelo de Yo-Yo Ma. Escutamos toda de pé, esperando para ir para o nosso lugar, mas também como deveríamos ouvir uma musica como essa, com total atenção e presença.
O concerto foi uma aula sobre humanidade e conexão com a natureza. A cada nova peça, uma breve fala, nos conectando na linha conceitual do concerto. Uma fala macia, leve, mesmo para retratar a potência do ser humano em eventos destrutivos como as guerras. Cada canção mostrava um caminho com muitas possibilidades de conexão e de construção do novo unindo o natural e o humano.
A última peça, uma música de Arvo Pärt chamada Spiegel im Spiegel, foi tocada com o acompanhamento de um pianista de 23 anos, e com imagens do Telescópio espacial Hubble. O único momento em que, além do Yo-Yo Ma e seu Violoncelo, e de uma luz focada nele, tínhamos alguma imagem ou som adicional.
Um momento único de celebração da vida para além da terra.
Um momento de construção de um olhar de conexão com o infinito e com o que podemos ainda construir, se pararmos de destruir.
Um concerto perfeito, irretocável, que nos transformou. Como disse a Aninha, ele revira a nossa alma e nos coloca em outro lugar. Um lugar que faz com que nada seja igual. De lá, podemos repensar as coisas e reprogramar. Sempre digo que a arte tem esse efeito em nós: nos transforma a partir das propostas que recebemos dos artistas e da forma como as interpretamos com a nossa humanidade. Nesse concerto foi assim.