Volta às aulas!
Qual a melhor forma de definir as referências teóricas que vamos usar em nossas aulas?
Talvez essa seja uma das principais decisões que temos que tomar enquanto professores: identificar as referências que vamos utilizar para que possamos conduzir o semestre considerando os objetivos da disciplina e os conteúdos e competências que devem ser trabalhados durante este período.
Mesmo que eu considere esta uma decisão importante, pelo que vejo na maioria dos planejamentos, essa não é uma questão amplamente considerada.
Pensamos nas aulas, pensamos no semestre, definimos atividades, tentamos engajar os alunos, mas geralmente duas coisas ficam para trás: a escuta dos estudantes e a reflexão sobre as referências teóricas da atividade.
Para o primeiro ponto, a escuta, percebo que estamos avançando bem. Hoje, vejo mais professores e professoras conectados aos alunos, abrindo espaço para o diálogo e para a construção de um conhecimento coletivo.
Entretanto, a identificação dos autores para a disciplina, geralmente é uma tarefa deixada em segundo plano. Isso porque, historicamente, temos os melhores autores já definidos no planejamento e isso não muda de um semestre para outro. Muitos textos sobrevivem ao tempo. Além disso, a estrutura burocrática das instituições muitas vezes dificulta essa mudança constante, por inúmeras questões, inclusive o custo de aquisição de novos materiais.
Mas o fato é que a definição dos autores impacta tudo o que fazemos, incluindo o senso de pertencimento e o engajamento dos alunos.
Quando trabalhamos com autores que, de certa maneira, se parecem muito (por exemplo: homens, brancos, norte global, com uma determinada idade), temos um viés de pensamento e de leitura de mundo. Além disso, muitos dos alunos podem não se sentir representados nesse grupo.
Assim, me parece que a construção do conhecimento nas diferentes áreas, passa por uma parada reflexiva, passa por estudarmos profundamente as possibilidades de autores e identificarmos visões complementares.
é na última página do planejamento, a lista de autores, que está a essência e o potencial de inovação que temos em nossa atividade.
Compartilho aqui uma ideia para trabalhar nessa perspectiva. Não é uma receita, ou um padrão que deve ser seguido, é apenas a representação passo a passo de uma prática, da forma como eu construo meu planejamento e organizo minhas aulas.
Uso como um checklist conceitual que representa os itens que preciso considerar enquanto monto meu plano. Abaixo, as principais ideias.
- Como estamos hoje?
Comece com o mapa mundi: imprima a imagem do mapa mundial. Pesquise os autores que geralmente utiliza e verifique os países de origem de cada um. Se este mapa estiver coberto apenas por autores europeus, por exemplo, podemos ter um viés. Se estiver distribuído no norte global, ou mesmo no sul global, temos um outro tipo de viés. é importante verificar essa distribuição e pensar se não estamos repetindo os mesmos olhares.
Identifique a origem (escola ou universidade onde ensinam, formação dos autores)
Verifique se o conjunto de autores da conta da diversidade relacionada aos perfis geracionais — temos mudanças significativas entre gerações que eventualmente podem impactar nossa atividade
Considere questões de diversidade: raça, gênero, entre outras.
Busque autores que desafiem o seu próprio aprendizado: diferentes visões, olhares ancestrais, relacionados com diferentes atores sociais.
Sempre considere a qualidade do autor ou da autora, em termos de publicações e impacto social.
2. Como vamos mudar a nossa perspectiva?
A partir deste olhar, crie uma lista de potenciais autores.
Distribua no mapa
Conte e classifique a partir das questões de diversidade.
Apresente para colegas professoras e professores
3. Compartilhe e esteja aberto para a escuta e para eventuais mudanças propostas pelos alunos, e que considere relevante.