Uruguai ou Colômbia? Qual a seleção brasileira?
Antes de começar, preciso dizer que tenho dificuldades em torcer pela seleção Brasileira de futebol.
Isso acontece apenas com esse esporte, e essa dificuldade não tem relação direta com questões políticas, mas sim com um trauma que sofri e com uma certeza que tenho sobre como a seleção deveria ser.
O trauma é bastante óbvio: eu torcia muito para o Brasil e acreditava que tínhamos o melhor time do mundo em 1982. Na realidade nós tínhamos o melhor futebol do mundo naquele momento. Até que dia 5 de julho de 1982 enfrentamos a Itália e perdemos de forma injusta e melancólica. Eu tinha 9 anos e fiquei traumatizado com essa derrota. Em 1986, com um bom time, saímos da copa sem perder nenhum jogo, eliminados nos penaltis pela França. Foram duas derrotas muito injustas, e a partir daí, deixei a seleção de lado. Esse foi o trauma.
A certeza decorre de minha compreensão sobre como o time do país deve ser. Sempre disse que, mesmo sabendo que os jogadores brasileiros que jogam fora do país provavelmente estão entre os melhores do mundo, eles não fazem parte do dia a dia do Brasil e por isso não deveriam estar na seleção nacional. Essa compreensão não é muito bem aceita, mas o oposto não tem tido resultado: convocamos grandes medalhões, eles jogam, perdem, voltam para suas nações e nós ficamos aqui com o sofrimento. O 7 a 1 contra a Alemanha é o melhor exemplo disso.
Um exemplo de time nacional aconteceu em 1984, quando a base da seleção olímpica era um dos times do país. Nesse torneio fomos vice-campeões, o que era o melhor resultado obtido pelo Brasil até aquele momento.
Em 1982, a melhor das copas, eram 22 jogadores e apenas 2 jogando fora do Brasil. Em 2002, ano do penta, eram 23 jogadores, e ainda existia a maioria de jogadores jogando dentro do país: 13 atletas.
De lá para cá, tudo mudou.
Em 2006 eram apenas 5 em times nacionais, em 2014, ano da tragédia dos 7 a 1 eram apenas 4 jogadores dos 23 jogando no território nacional. Em 2018, novamente apenas 4, sendo dois goleiros reservas. Na ultima copa, 3 atletas jogando no brasil.
Finalmente, agora, na copa América, tínhamos apenas 4 jogadores em solo nacional, incluindo dois goleiros. Apenas um jogador titular. Com a derrota desta semana, cada um dos atletas volta para a sua casa, para o seu país, e nós ficamos aqui no Brasil, amargando esse sentimento.
Por isso penso que a seleção brasileira é na realidade bem menos brasileira que várias outras. Nas semifinais temos dois dos 4 times classificados com jogadores atuando no Brasil. São 11 jogadores, um time inteiro. O Uruguai é o líder, tendo 6 jogadores e ainda Suarez, que até pouco tempo era o principal jogador do Grêmio. A Colombia tem 5 jogadores atuando por aqui.
Pode ser que esse pensamento não faça sentido, mas o último bom resultado que tivemos (o penta) e o pior resultado de todos os tempo (o 7 a 1 para a Alemanha) mostram que valeria a pena tentar. Quem sabe uma seleção com maioria nacional? Isso já poderia apontar um caminho diferente e ampliar a conexão dos torcedores com a seleção.