gustavo s de borba
3 min readMar 26, 2022

Taylor Hawkins

Eu lembro de no final da década de 70, inicio da década de 80, começar a descobrir o valor da música e da poesia de muitas letras daquela época. Escutava os discos de minha mãe, que incluíam todos os compositores clássicos como Beethoven, Vivaldi, Chopin, e cantoras como Joan Baez, Mercedes Sosa, ou ainda Milton Nascimento e Chico Buarque. Eu era um guri, mas já me impressionava com o impacto que a música pode ter no processo de contínua reflexão que devemos fazer para compreender melhor o nosso papel no universo, e também entender melhor coisas cotidianas, como apreciar um final de tarde ou narrar esse momento através da poesia.

Na década de 80 eu descobri o gênero que mais me impactou, o rock. As bandas nacionais eram muitas e incluíam as clássicas Legião Urbana, Paralamas, Ira!, Barão Vermelho, passando por alternativas como Violeta de Outono, e muitas bandas internacionais: U2, The Cure, Smiths, New Order, Kiss, Motorhead, entre tantas outras. A medida que o tempo ia passando, surgiam novas bandas e novas sonoridades. Foi assim que conhece duas bandas transformadoras para mim: Pearl Jam e Nirvana.

De lá para cá, não surgiu muita coisa nova no caminho do rock. Mas entre as bandas que conseguiram se reinventar após uma tragédia cabe destacar aqui o Foo Fighters. A energia dessa banda é transformadora. Tive o prazer de ver alguns shows, com destaque aqui para os shows que vi em Boston com a Aninha e com os amigos Lis e Marco. A Lis e a Aninha são fãs número um da banda, então fomos ver o show do dia que tínhamos ingresso, e no dia seguinte, umas duas horas antes do segundo show, entrei em um site de revenda e consegui 4 ingressos baratos para podermos curtir uma segunda vez.

O mesmo show, nunca é igual.

Nessa segunda vez não tínhamos mais a necessidade de ver tudo, de registrar, de aproveitar cada momento, o que geralmente faz com que não tenhamos a melhor experiencia. Nesse segundo show apenas assistimos aquela super banda tocar por mais de 2 horas. Dava para sentir que, embora o grande líder seja o Grohl, existe ali um sentimento de família. Opa, um sentimento de família, antes da última eleição do Brasil. Todos juntos, todos felizes e integrados de tal forma que um olhar pode sinalizar os caminhos que devem percorrer nos próximos minutos. Essa energia estava em todos, mas não tinha ninguém mais explosivo e criativo naquele espaço do que o baterista, Taylor Hawkins. Em qualquer lugar dos estádios gigantes onde os shows acontecem, dava pra ver o sorriso dele, radiante. A energia e aceleração nos golpes da bateria. A integração nas rápidas conversas entre músicas com o Grohl, e até a qualidade vocal quando se arriscava a canta alguma canção, como “Somebody to love”.

Essa noite ele morreu. A energia propulsora de uma das únicas bandas de rock que ainda restavam, não está mais presente fisicamente nos palcos. Imagino o impacto para a banda e para todos os fãs. O fato é que, mesmo em super grupos que dependem de um grande líder, existem pessoas fundamentais sem as quais a construção coletiva se dissipa. Me parece que o Taylor Hawkins era um desses caras: não estava em evidência, na linha de frente, mas dava a cadência de tudo que ali acontecia. Não estava liderando aquele grupo, mas liderava, através da bateria, o público que estava para além do palco, e tornava mais humano o ato de estar em um grupo de super heróis. Transformava a experiência de muitos através da energia que entregava para todos aqueles que precisavam: dentro e fora do palco. Agora fica a lembrança e também a alegria que inundava os shows. Descansa Taylor, enquanto seguimos ouvindo e sentindo aqui toda energia que entregaste nesses anos para transformar esse mundo em um lugar melhor.

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Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

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