Qual a próxima “trend”?
Já escrevi bastante sobre a busca por compreendermos o futuro.
No campo em que atuo, utilizamos ferramentas de desenho de cenários futuros, não tentando entender o que vai acontecer, mas buscando aprender sobre as possibilidades.
As tendências de hoje apontam para lugares que provavelmente não se confirmam, e ir além delas nos permite compreender caminhos possíveis e impossíveis, mas que nos trazem novas formas de olhar para o agora. Novas formas de aprender, de nos preparar para o que vem, e de projetar o que está por vir.
Esse processo de aprendizagem traz em sua origem a riqueza da descoberta coletiva, da troca, da construção de discernimento sobre os temas que estamos analisando. Quando entendemos melhor, a partir de múltiplas perspectivas, vemos mais possibilidades futuras e aprendemos mais sobre estes caminhos.
Acredito que esse é o grande processo de projetação: um processo de descoberta coletiva de possibilidades.
Assim, tendências nos ajudam a identificar alguns destes caminhos, mas não são fundamentais no processo de design. Mas mesmo que fossem, o termo trend, assumiu diferentes conotações a partir do surgimento das redes e dos espaços digitais. Hoje, está relacionado com um movimento que gera um padrão de comportamento.
Depois de ver vários desenhos engraçados nas redes, recebi uma notícia falando sobre a nova trend de gerar imagens a partir de um conceito de desenho proposto por uma empresa americana. A Inteligência artificial pega o modelo e a partir do prompt descritivo do usuário, gera um personagem que seria “seu”.
Esta é apenas mais uma tendência em uma lista vasta que envolve desafios (alguns bastante questionáveis) e também a entrega de informações do usuário para as empresas. A única coisa que elas tem em comum é que, alguns dias depois, desaparecem. Até por conta disso, não deveriam ser chamadas de tendência.
Na prática, são ações que promovemos para consolidar as possibilidades de uma tecnologia, ampliamos os possíveis testes e ajudamos a tecnologia a “melhorar” em busca de um novo patamar.
Analisando estas questões, fiquei pensando no real impacto das tecnologias em nossa vida. Quando vejo humanos repetirem um único comportamento, vejo uma padronização, em direção a um padrão universal. Nos momentos que novas trends surgem e que aderimos a elas, acabamos ficando mais iguais, e quanto mais iguais ficarmos, mas fácil para a tecnologia e para as organizações nos oferecerem possibilidades de produto, comportamento, etc. No limite, se somos todos iguais, precisamos apenas de um tipo de produto e os ganhos em escala podem ser ampliados.
Na realidade, não me parece que a tecnologia nos torna iguais.
A tecnologia está a disposição para fazermos como ela o que julgarmos mais adequado. Podemos usar muitas aplicações tecnológicas nos diferentes campos em que atuamos para ampliar acesso (IA para falar em diferentes idiomas), para facilitar o aprendizado (personalização de tarefas escolares a partir da compreensão das necessidades de cada aluno), entre várias outras possibilidades. Entretanto, quanto vemos algo novo e aderimos sem crítica, sem buscar compreender aquela tecnologia em nosso contexto, acabamos fazendo algo que só nós podemos fazer, dado o nosso de decisão e de escolha que temos: escolhemos ser iguais, através da tecnologia.
Esse, para mim, é um dos maiores desafios que temos como humanos: como levar adiante nossas competências e transformar os espaços com o apoio da tecnologia, respeitando a diversidade e apoiando os pluriversos nos quais vivemos.