Quais as competências que precisamos?

gustavo s de borba
3 min readDec 18, 2024

Um dos temas de maior interesse na sociedade é a compreensão das competências necessárias para atuarmos no século XXI.

Estudos como o proposto por Ananiadou e Claro (2009) descrevem novas competências, a partir das mudanças impostas pela revolução tecnológica e outras mudanças de grande impacto na sociedade atual. O relatório do National Research Council de 2012, aponta a necessidade de competências cognitivas, interpessoais e intrapessoais e o estudo Canadense Towards Defining 21st Century Competencies for Ontario (2016) identifica inúmeros esquemas conceituais de competências, a grande maioria relacionada a nossa capacidade de desenvolvimento humano.

Estes estudos consideram cenários futuros possíveis e as necessidades percebidas na sociedade, entretanto, era difícil prever o que estava por vir e a pandemia nos surpreendeu com uma crise sem precedentes.

Antes de 2020, minha maior preocupação em termos de compreensão e construção de competências estava centrada na necessidade de nos mantermos humanos e conectados.

Os avanços tecnológicos e os debates relacionados à inteligência artificial, futuro do trabalho, entre outros temas que impactam nossa relevância no futuro apontavam para a necessidade de mantermos o foco no desenvolvimento de competências humanas, e na nossa construção coletiva.

Como a pandemia transformou essa compreensão? Como a pandemia impactou ou não o conceito de coletividade e de humanidade?

Essas questões, dentre tantas outras, são fundamentais para avançarmos no debate de como seremos no futuro como humanidade, e as respostas devem ser construídas ao longo do tempo. Entretanto, acredito que a crise que vivemos reforça a necessidade ainda maior de desenvolvermos competências que promovem nossa humanidade e consciência de coletivo.

Um elemento dificultador relacionado ao avanço das atividades não presenciais, é o fato de que somos seres sociais, e aprendemos e ensinamos na interação. Dessa forma, o encontro é um momento de construção e de transformação. Nessa perspectiva, o distanciamento pode ser um entrave nesse processo, que faz com que tenhamos que reinventar as formas de conexão e convívio. As competências que desenvolvemos devem nos ajudar nessa construção. Devem nos ajudar a compreender o outro e o papel do indivíduo no coletivo.

Considerando esse ponto e os estudos de competências que desenvolvemos nos últimos anos (proposta do modelo de competências da UnisinosLAB), além de discussões que realizei em 2015 com o Professor do Andy Hargreaves, quando ele apontou 3 competências fundamentais para o século XXI, cabe destacar algumas competências que precisamos desenvolver com maior ênfase.

  1. Engajamento global: a ideia de engajamento global para Embleton (2015) está relacionada ao compromisso e interações significativas com o mundo como um todo. Analisando este ponto como uma competência do indivíduo, temos que compreender nosso papel no mundo e como nossas ações se conectam e impactam o todo, além de termos uma consciência global, que remete a compreensão de culturas e respeito a diferenças.
  2. Capacidade de compreensão digital reflexiva: esta competência é muito relevante no momento atual, dado que estamos interagindo com muitas ferramentas e espaços digitais, muitas vezes sem compreender o seu real impacto. A ideia de compreensão reflexiva dos aspectos relacionados à digitalidade permite uma análise mais robusta dos impactos e oportunidades deste espaço.
  3. Mindfulness e concentração em um ambiente de distrações aceleradas: durante a pandemia vivemos um momento ainda mais acelerado de atividades sobrepostas as quais dificultaram nossa concentração e construção da experiência. Desenvolver essa competência demanda autoconhecimento, disciplina e abertura para o novo.
  4. Construção de empatia, saber ouvir: é muito relevante compreendermos o que o outro sente para podermos avançar. Como meu colega, aluno, amigo está se sentindo neste momento de pandemia? Esse olhar pode ser construído a partir de oportunidades de diálogo, de escuta ativa e de construção coletiva de histórias que estamos todos vivendo.

Obs. Texto escrito logo após o período pandêmico e revisado recentemente.

Para saber mais:

Embleton (2015) https://cbie.ca/wp-content/uploads/2016/08/CBIE-briefing-note-global-engagement.pdf

Towards Defining 21st Century Competencies for Ontario http://www.edugains.ca/resources21CL/About21stCentury/21CL_21stCenturyCompetencies.pdf

National Research Council. 2012. Education for Life and Work: Developing Transferable Knowledge and Skills in the 21st Century. Washington, DC: The National Academies Press. https://doi.org/10.17226/13398.

EDUCATION FOR LIFE AND WORK Developing Transferable Knowledge and Skills in the 21st Century

Chung used the National Research Council’s 2012 report, Education for Life and Work: Developing Transferable Knowledge and Skills in the 21st Century,

ALVES, Isa Mara & BORBA, Gustavo Severo de & CAMPAGNOLO, Paula Dal Bó & MARIUCCI, Sergio Eduardo, A geração Z e os processos de ensino e aprendizagem. Terceiro congresso internacional de pedagogia Educação em tempos incerto, Braga Portugal, 2019.

ALVES, Isa Mara & BORBA, Gustavo Severo de & CAMPAGNOLO, Paula Dal Bó & MARIUCCI, Sergio Eduardo, The impact of learning spaces in student engagement. Terceiro congresso internacional de pedagogia Educação em tempos incerto, Braga Portugal, 2019

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Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

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