Primeira semana de aulas
Domingo à tarde. Como diria meu amigo Mini, dia de turnê de despedida em São Paulo, mas também dia de grenal aqui no RS. O sol ilumina Porto Alegre, e ao mesmo tempo que a umidade intensa desse período se transforma em transpiração, eu preparo as aulas da semana.
As escolas já começaram, e agora as principais universidades aqui do Sul iniciam suas aulas. Eu tenho 3 atividades: na terça, na quarta e no sábado. Uma delas em inglês, com alunos internacionais, uma delas do nosso mestrado em design e a terceira do curso de graduação em Design estratégico. As 3 disciplinas dialogam com conceitos de inovação, empreendedorismo e design, e buscam atacar problemas globais que impactam todos nós e para os quais precisamos de respostas a partir de um olhar pluriversal e sistêmico.
Mas é hora de trabalhar, de montar cada uma das aulas. Toda vez que um semestre começa eu faço o que a maioria de nós, professores, acaba fazendo: busco os slides, os textos e os materiais do ano anterior. Mas toda vez que faço isso, me dou conta de como a minha compreensão destes conceitos vai avançando. Ou melhor, vai se transformando, assim como se transforma aquele que se permite tocar através da escuta, da leitura, pelo olhar do outro. Talvez por isso seja quase impossível repetir a maioria dos textos, ou mesmo das dinâmicas na aula.
Os textos nos provocam e nos fazem ressignificar não apenas os conceitos, mas a nossa compreensão das diferentes realidades.
Aqui, cabe um breve exemplo.
Nos últimos anos, com o deslumbramento nacional (e especialmente local), pelo conceito de startups, acabei desenvolvendo um olhar mais crítico sobre esta perspectiva. Fico contente quando vejo pessoas inspiradoras, como o Guilherme Massena, um dos fundadores da Dobra, conversando com os alunos para desconstruir a ideia de escalabilidade, de venda da empresa, e de busca de investidores. No caso dele, o negócio é a transformação social, com lucratividade, mas com impacto.
O mesmo se aplica quando pensamos em empreendedorismo. O que é de fato empreender? Quem pode empreender em nosso país? No romance “Os supridores” de José Falero, por exemplo, ele categoriza o termo como “roubo legalizado”, a partir do olhar do operário. Essa compreensão tem muitos limites, mas vale a provocação para que um novo debate aconteça.
O espaço da academia é o espaço da conversa. Da construção de novas dúvidas, de novas possibilidades, de novas compreensões. Por isso, quem vem fechado, quem já tem as respostas e suas certezas, não consegue viver uma experiência transformadora. Não muda, não amplia o olhar. E quando não mudamos, quando não buscamos novas perspectivas, quando não temos a curiosidade de saber algo a partir do olhar de outro alguém, paramos e nos fechamos. A consequência disso é o constante estranhamento com as transformações do nosso mundo e a consequente busca por espaços alienantes.
Aprender é o oposto disso, é a capacidade de ampliar, de crescer, de desenvolver discernimento.
Desejo a todos um baita semestre, que tenhamos mais transformação e menos repetição.