Pluriversos, ancestralidade e presentes possíveis
Tenho escrito, lido, ouvido muita coisa sobre tecnologia. Parece que em cada disrupção, novos sentimentos e possibilidades afloram. Nesses momentos, eu procuro refúgio em livros, de preferência impressos, que tenham valor em termos de conexão com princípios básicos da nossa humanidade.
Um destes livros é o Pluriverse: A Post-Development Dictionary, organizado por: Ashish Kothari, Ariel Salleh, Arturo Escobar, Federico Demaria e Alberto Acosta. Este livro apresenta mais de 100 artigos relacionados a iniciativas transformadoras e alternativas ao que vemos em nosso mundo: um mundo unitário, um universo, onde as decisões acontecem como se fossemos todos iguais. Não somos, somos pluri, e por isso pensar em diferentes universos, ou em pluriversos, é fundamental.
Buscando alternativas para esse olhar e tentando fugir um pouco do futuro tecnológico li hoje o livro de Ailton Krenak, o Futuro Ancestral. Eu já havia entrevistado o Ailton no final de 2021 no Podcast Edu Voices e tive a oportunidade de aprender mais uma vez com ele. O livro, dentre outros temas, discute educação.
Sempre que leio, descubro novas possibilidades, novos autores.
No livro de Krenak, logo no início, descobri o Antônio Bispo dos Santos, que escreveu o livro Colonização, Quilombos: modos e significações. Ele apresenta o conceito de confluência, um modo contra o colonialismo, definido pelo autor como: “a lei que rege a relação de convivência entres os elementos da natureza e nos ensina que nem tudo que se ajunta se mistura, ou seja, nada é igual.” (Pág.89)
A compreensão do conceito de confluência, a ideia de compreender os pluriversos, a perspectiva de buscar narrativas pluri e a ideia de ancestralidade estão todas inseridas em um espaço que reconhece que não somos iguais e temos que aprender com o outro, especialmente com a natureza.
Esta lógica, possibilita a compreensão da educação em uma perspectiva diferente da utilitarista. Nas palavras de Krenak, “a presença dos outros seres não apenas se soma à paisagem do lugar que habito, como modifica o mundo. Essa potência de se perceber pertencendo a um todo e podendo modificar o mundo poderia ser uma boa ideia de educação” (Pág. 103)
Esta compreensão poderosa nos leva para uma perspectiva diferente daquelas que estão no nosso dia a dia. Não se trata de discutir tecnologia, de acertar sobre futuros, mas de compreender o nosso papel nesse momento, nesse mundo.
Para mim, trata-se de gerar engajamento, ouvir o outro, perceber o diferente, construir na diversidade e respeitar nosso planeta. Toda a tecnologia digital, quando resgatamos esses princípios, é ruído, ou uma distração.
Leituras sugeridas:
Krenak, A. Futuro Ancestral. Companhia das letras, 2022.
Santos, A. B. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília: UnB, 2015.
Podcast com Ailton: