Pacto pelo futuro de todos nós

gustavo s de borba
2 min readMay 26, 2022

Recentemente finalizei a leitura do livro Cuidar uns dos outros: um novo contrato social, da professora Minouche Shafik, publicado no Brasil em 2021 pela editora Intrínseca.

O foco principal da autora é debater sobre a necessidade de um novo contrato social. Esse contrato envolveria normas e regras que definem como as instituições coletivas atuam e um olhar para o bem-estar global.

O texto apresenta uma perspectiva histórica e aponta para questões que deveriam ser obvias para nós: enquanto nação, ou mesmo globalmente, precisamos considerar o bem-estar coletivo, a partir de parâmetros mínimos para que as pessoas possam ter uma vida digna. No contexto do indivíduo, deveríamos contribuir para o coletivo sabendo que no futuro, quando precisarmos de algo por estarmos doentes, ou formos idosos, teremos um retorno também individual.

Dentre os elementos discutidos no livro, me chamou atenção o debate sobre tecnologia. A tecnologia tem sim uma capacidade disruptiva, e muitas vezes pode impactar no emprego, através de mudanças como a automação. Não faltam hoje projeções e relatórios que apontam para o fim de determinado tipo de emprego. Entretanto, do ponto de vista organizacional, a tecnologia tem potencializado um padrão de comportamento que maximiza o ganho empresarial, em detrimento do ganho coletivo e do bem-estar coletivo.

Isso se deve ao fato de a busca por inovação tecnológica ser muitas vezes focada em formas de melhorar produtividade e reduzir custos de pessoal. Da mesma forma, temos cada vez menos trabalhadores em período integral e um fenômeno de eventual precarização do trabalho, com profissionais com tempo parcial e menos benefícios. O ponto central aqui é que se existisse penalização ou mesmo responsabilização pelo uso de recursos naturais, talvez existisse o interesse das empresas em desenvolver tecnologias que preservam a natureza.

A autora reforça que “as empresas tenderão a criar tecnologias que economizem nas coisas pelas quais elas têm de pagar” (pag.228). Dessa forma, não existindo qualquer política de responsabilização, em setores como o agronegócio, as organizações usam o que é coletivo e gratuito para gerar lucro privado. E o valor que poderiam investir para reduzir o impacto, investem em novas tecnologias que reduzem o espaço de trabalho.

Esse efeito duplo negativo, exclui o trabalhador e provoca o consumo do meio ambiente, tendo como consequências futuras, além de um potencial extermínio da humanidade, custos associados a desastres ambientais, aumento do custo de commodities, entre tantos outros fatores.

Quando falamos em desenvolvimento, é impossível não olhar para estes pontos. Hoje, 2022, vivemos uma ameaça real, e se as organizações não modificarem seus processos, não terão vida no longo prazo.

Mas quem disse que isso importa?

Em um sistema que busca atender acima de qualquer coisa os acionistas, o foco é sempre de curto prazo. E dessa forma, destruímos nosso futuro.

Precisamos trilhar novos caminhos.

Isso passa sim por um novo contrato social, como diz Minouche Shafik, mas também por uma mudança de paradigma de desenvolvimento.

Fontes:

Shafik, Minouche. Cuidar uns dos outros: um novo contrato social. Editora: Intrínseca; 1ª edição, 2021, 336p.

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Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

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