Open AI

gustavo s de borba
3 min readNov 21, 2023

“Uns anjos tronchos do Vale do Silício, Desses que vivem no escuro em plena luz, Disseram vai ser virtuoso no vício, Das telas dos azuis mais do que azuis”

Assim começa uma das melhores músicas do Caetano Veloso, Anjos Tronchos, lançada em 2021.

Escutei essa música no show do Caetano no último final de semana, e quando comecei a receber informações sobre as mudanças na Open AI, logo lembrei dela.

Fiquei pensando nisso, por vários motivos. Primeiro, por não conseguir compreender como, no século XXI, ainda ficamos presos em debates que envolvem um clube de, em sua maioria, homens brancos, o Vale do Silício. E quando começo a ouvir as análise sobre a demissão de Altman, vejo nos podcasts, nas notícias, uma maioria absoluta de homens comentando o que aconteceu, todos surpresos, sem entender e criando teorias que mais parecem as que vemos em programas esportivos, onde as noticias são rasas e os jornalistas precisam explorar temas como possíveis transferências de jogadores ou prováveis lesões.

Escutei muita coisa e minha primeira reação foi achar engraçado que estes gurus da previsão, que querem criar máquinas capazes de quase tudo, não tenham previsto algo que acontece no dia a dia de qualquer empresa: a demissão de alguém. Parece um paradoxo, mas não é. Somos imprevisíveis.

A medida que fui buscando mais informações, comecei a me dar conta de algo que estava acontecendo, inclusive comigo: eu estava imerso em um mar de informações sobre um tema que deveria ter mínima relevância. Comecei a pensar nas ameaças que estão no nosso dia a dia, e que também são fruto desse comportamento.

Quando coloco no google trends “Sam Altman” e termos relacionados ao aquecimento global, me surpreendo com o resultado. Fiz a pesquisa para uma semana, e para o último dia. Isso porque acabamos de, pela primeira vez na história, registrar um dia de temperatura média global 2 graus Celsius acima da era pré-industrial. Mas quando os termos estão juntos, a busca pelo ex-ceo da Open AI é muito superior a busca pela notícia, que provavelmente é a mais importante na nossa história recente.

Nesses momentos percebo que realmente perdemos boa parte de nossa capacidade de ver problemas reais. Deveria ser simples. Para avaliar a relevância de algo, poderíamos pensar assim: se essa tecnologia, ou se essa organização, não existisse, o que aconteceria com a humanidade?

Pensando assim, fica fácil de ver a irrelevância dos temas que atualmente julgamos ter maior impacto tecnológico.

Não estou dizendo que a tecnologia, a inteligência artificial, o aniversariante do mês (ChatGPT) não tem aplicações fantásticas e de grande impacto. O que estou dizendo é que sobreviveríamos sem isso.

Todos sabemos.

Mas sem um planeta, me parece que não.

Fico com o sentimento de que nos perdemos nos olhares que o mercado nos impôs, e continuamos imersos na busca por informações irrelevantes, enquanto o que realmente é importante, passe em nossa frente.

Precisamos resgatar esse olhar coletivo e buscar soluções reais para problemas reais.

Estou escrevendo de Porto Alegre. Hoje está 31 graus celsius por aqui, com sensação de 34. Estamos em novembro. O Brasil registrou 3 dias atrás um recorde histórico em termos de sensação térmica: 59,7 graus celsius. Precisamos pensar nisso e usar a nossa inteligência real e coletiva, para seguirmos vivendo nesse lugar, que parece estar nos dando um recado bastante claro.

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

gustavo s de borba
gustavo s de borba

Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

No responses yet

Write a response