Oitenta

Ultimamente tenho me surpreendido com este número, que tem cara de infinito, e grandiosidade de uma vida.

Tenho pensado nisso porque vários de meus ídolos estão fazendo 80 anos. Na realidade, tenho a sensação que todo músico bom está de aniversário, fazendo 80. É um sentimento meio parecido com o que eu tinha quando a Aninha estava grávida. Naquele tempo, eu só via mulheres grávidas. E posso comprovar que esse fator existe, pois foi assim quando nasceu a Giulia, e depois quando nasceu a Clara.

Isso se repete agora. O Paul McCartney e o Brian Wilson fizeram 80 essa semana que passou, meus grandes ídolos internacionais, e ai eu olho pro lado, e vejo mais alguém fazendo aniversário. E fazendo 80 anos. Hoje foi o Gil. Oitenta anos deste que é um dos nossos maiores compositores. Dia 7 de agosto, o Caetano faz 80. Dia 26 de outubro, o Milton Nascimento. O Ney Matogrosso, fez no ano passado. O Chico, faz daqui dois anos. Tudo gira em volta dos 80. Realmente não sei se é o “efeito grávida”, ou se tem uma geração inteira que construiu a nossa cultura e arte que está chegando nesta idade misteriosa. São poucos os números que, quando caem, quando ficam de lado, são maiores. O 8 é imbatível. Quando vira pra qualquer um dos lados, 90 graus, se transforma no infinito. Não tem mais limites, vai além de todos as equações, de todos os lugares. Sai da vida do indivíduo e vai para a vida do coletivo, do planeta, dura para sempre.

Oitenta. A pessoa que conheço que está mais perto disso, é minha mãe, mas ainda faltam seis anos para ela completar essa idade. Por enquanto, ficamos com a celebração da arte, da música, que vai além da idade e que mostra, através destes compositores, que o tempo não é linear, não é exato, e o que eles criam, através gerações, vidas, e vai além . Ao infinito e além.