O futuro do trabalho

gustavo s de borba
5 min readOct 4, 2023

Pensar o futuro do trabalho passa por repensar o nosso presente. Isso porque as decisões que tomamos hoje definem o que teremos, ou não, logo ali na frente, especialmente quando pensamos nas questões ambientais.

Faz algum tempo que discutimos o futuro do trabalho e as profissões do futuro. Eu lembro, uns 8 anos atrás, de ter dado palestras em diferentes escolas de Porto Alegre com esse tema. Também lembro de nesses anos todos ter visto editoriais, textos em jornais e relatórios apontando para o fim de determinadas profissões.

Em 2017, por exemplo, apareciam relatórios e discussões sobre o que aconteceria em 2030. Na exame, uma matéria apontava: “Estas profissões podem acabar até 2030 (ao menos para os humanos)”. Todo ano esse discurso se repetia, e ainda se repete.

Em 2019, na revista amanhã, uma matéria com título “Sim, sua profissão pode deixar de existir”, trazia dados de um relatório do Fórum Econômico Mundial que apontava um equilíbrio (50/50) “no início da próxima década” no trabalho mundial realizado por humanos e robôs.

Se fizermos uma pesquisa hoje, veremos outros relatórios, outras matérias, e a mesma temática. Na minha percepção, ficar preocupado com este debate não faz sentido. E penso nisso a partir de 3 pontos principais, descritos abaixo:

1- Sempre foi assim: a tecnologia sempre trouxe desafios, novas possibilidades e eventuais mudanças nos espaços de trabalho. Eu lembro quando me formei em 1995 que as empresas, poucos meses após minha saída da universidade, solicitavam proficiência em Autocad, tecnologia que era incipiente nos bancos escolares e com a qual eu e meus colegas trabalhamos muito pouco no final do curso. Essa revolução colocava em dúvida a formação que tivemos? Me parece que não. Seguimos aprendendo esta tecnologia e avançamos no mercado de trabalho devido ao ponto que descrevo a seguir.

2- Quando aprendemos novas competências estamos prontos para novas tecnologias: a formação das pessoas é o ponto principal para a transformação através da educação. Por conta disso, parece mais relevante discutir as competências que precisamos desenvolver para viver em sociedade do que quais profissões irão existir ali na frente. Existem inúmeros estudos sobre competências para o século XXI. A partir de um olhar sobre alguns destes, identificamos em 2017 aquelas competências que orientam a formação dos alunos na Unisinos. Estas competências são transversais e vão ajudar os estudantes a se adaptar, ou a trabalhar em novos empregos, novas profissões. A lista das competências está a seguir:

Atitude Empreendedora

Autonomia e Autogestão do Conhecimento

Colaboração

Comunicação

Formação Cultural

Liderança

Pensamento Computacional

Pensamento Projetual

Responsabilidade Socioambiental

Senso Crítico-Reflexivo e Resolução de Problemas

3- Se a profissão ou aquele espaço de trabalho realmente não existir, que bom. o terceiro argumento é o que abraça a possibilidade real de transformação das profissões. Se profissões deixarem de existir, se novas surgirem que não demandam a nossa interação, então deixemos as máquinas trabalharem e vamos aproveitar. Nesse cenário, políticas públicas como renda básica universal devem ser instaladas globalmente, e não podemos viver com uma lógica de concentração de riqueza. Esse argumento, embora seja tentador para mim, pois poderíamos usufruir mais de nosso tempo, tem pouca chance de se desenvolver. Isso porque mesmo que a tecnologia avance, ela provavelmente irá nos superar em uma lateralidade de nossas inteligências. Que são muitas.

Máquinas 1, Humanos 8?

Em uma conversa com alguns amigos, o Tiago Mattos trouxe para a pauta a ideia de que a superação do humano pelas máquinas deve estar circunscrita a uma inteligência: a lógico matemática. Mas se pensarmos no conceito de inteligências múltiplas, devemos ter vantagens nas outras 8 propostas por Gardner e em tantas outras não mapeadas e relacionadas com a unicidade que cada humano tem. Para conhecimento, as 8 inteligências (além da lógico-matemática) propostas por Gardner são: Linguística, Interpessoal, Intrapessoal, Físico-Cinestésica, Espacial, Musical, Naturalista e Existencial.

Mas afinal, qual o futuro do trabalho?

Me parece que para responder essa pergunta, precisamos reorganizar nosso grupo, nossa equipe humana, e pensar em um jogo coletivo, como propõe Rushkoff.

Precisamos avançar no que importa para todos, incluindo aqui outros seres que habitam a Terra, e definitivamente compreender os limites e interesses de conceitos como metaverso.

Aqui, cabe mostrar as procuras mundiais sobre esse termo, desde 2020. Essa pesquisa foi feita no google trends em 30 de setembro de 2023. De novidade absoluta, hoje podemos considerar o metaverse um tema de pouca curiosidade.

Google Trends — 3 de outubro de 2023.

Hoje 8% pico 8 de Janeiro de 2022.

Na minha percepção, isso ocorre porque a vida real está aqui. Na realidade ali fora, no parque. Na rua. Esse é o lugar de transformação.

Pensar no futuro do trabalho passa por pensar o futuro da educação e de nossa humanidade.

Aqui — imperfeição, ambiguidade, risco, erro, criatividade

Cito aqui, para finalizar, um livro recente da pesquisadora Wendy Fischman e de Howard Gardner, chamado “the real world of college”. Eles fizeram uma pesquisa durante 5 anos, com mais de 1000 entrevistas com alunos de 10 universidades e identificaram, dentre várias outras coisas, que a experiência de formação na universidade deveria colocar no centro, além dos valores acadêmicos, o desenvolvimento de um senso de pertencimento e o cuidado com a saúde mental. Esses dados, embora publicados em 2022, são ainda de antes da pandemia. Sim, saúde mental nas universidades é uma questão histórica que deve ser seriamente considerada. Senso de pertencimento e engajamento também.

Talvez devêssemos olhar para esse lugar: como podemos como coletivo, diminuir essa corrida sem fim, com foco em competição e que pré-define que entre nós deve ter um vencedor.

Ou, como podemos criar para nós. Criamos para vender, não para manter (Douglas Rushkoff)

Somos um coletivo. Temos que avançar nisso.

Aqui nasce o futuro do trabalho.

Referências:

BERNT ENTSCHEV: Sim, sua profissão pode deixar de existir. 16/11/2019.

https://amanha.com.br/categoria/carreira/sim-sua-profissao-pode-deixar-de-existir#:~:text=Estudos%20revelam%20que%2C%20hoje%2C%2071,para%20o%20F%C3%B3rum%20Econ%C3%B4mico%20Mundial. Acessado em 30 de setembro de 2023

Camila Pati. EXAME: Estas profissões podem acabar até 2030 (ao menos para os humanos). 21/12/2017

https://exame.com/carreira/estas-profissoes-podem-acabar-ate-2030-ao-menos-para-os-humanos/. Acessado em 30 de setembro de 2023

Fischman, Wendy, Gardner, Howard. The Real World of College. The MIT Press (March 22, 2022)

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Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

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