Inteligência Coletiva
Ontem participei de um evento fantástico chamado Inteligência Coletiva, organizado por várias escolas, com o protagonismo da Escola de Professores Inquietos do Colégio Farroupilha. Eu estava escalado para o seminário de abertura do evento e tive o prazer de sentir a energia do Teatro da Unisinos lotado de pessoas transformadoras. No palco, estavam os meus amigos de longa data Marícia e Alex, além de uma jovem, que conheci recentemente, a Francielly Barbosa.
O foco do evento já aponta para um caminho fundamental: o reconhecimento de que devemos fomentar a construção de uma inteligência coletiva.
Para mim, isso se revela na necessária consciência de construção com o outro. Eu particularmente fico chocado quando vejo as pessoas buscarem tecnologia para serem melhores, terem mais competências além das relacionadas com seu fazer, buscando mais respostas sem precisar interagir com ninguém. Esse caminho não nos leva para um diferencial coletivo, e nos enganamos, na percepção equivocada de que sozinhos, e com mais competências, somos mais competitivos.
Talvez esse não seja especificamente o debate do evento, mas o nome me levou para esse lugar: entender, como diz o Douglas Rushkoff, que a humanidade é um jogo coletivo e que precisamos construir em grupo. Sozinhos, somos fracos.
Durante o evento, aprendi muito com as questões colocadas pela Maricia e com as histórias compartilhadas pelo Alex. A vivencia deles e as suas percepções sobre os processos educacionais são inspiradores, e enquanto falavam, geravam em mim novos aprendizados e novas questões. Sempre penso que essas duas coisas andam juntas: aprender e perguntar, ou refletir e perguntar.
Mas o grande momento da noite para mim foi a presença da Francielly.
Ela contou a história de vida dela, e a construção do projeto dos tijolos feitos de caroço açaí. Ela é do interior do Pará, estado onde é produzido aproximadamente 90% do açaí no Brasil. Aprendi ontem que desse montante, apenas 4% é aproveitado e o resto, que é descartado, pode criar uma contaminação ambiental.
Ver a Francielly contar sua trajetória e apontar para caminhos que transformam a vida dos jovens, através da educação, foi fantástico. Ela colocou em pauta o papel do professor, como inspirador, e também reconheceu o projeto como um desenvolvimento coletivo, onde ela é uma das protagonistas: aqui a ideia de inteligência coletiva.
Um dos pontos que ela trouxe, no final, a partir das perguntas que recebemos, foi a importância de termos professores que escutam os alunos. Essa é uma das competências que temos estudado como fundamentais para os professores, mas muitas vezes não é a mais presente em nossas salas de aula.
Na minha perspectiva, quando escutamos os alunos, revelamos as possibilidades infinitas que habitam a sala. Reconhecemos a diversidade e a pluriversalidade presente no nosso dia a dia, e que se esconde por não darmos espaço para a escuta.
Esse deve ser um dos principais caminhos para transformar a educação.
Na minha breve fala, eu trouxe alguns autores que embasam essas perspectivas aqui colocadas. Para quem interessar, segue abaixo as referências:
Shirley, D. Hargreaves, A. Cinco Caminhos para o Engajamento: Rumo ao Aprendizado e ao Sucesso do Estudante. Penso, 2022
Rushkoff, D. Equipe HUmana. Bookman, 2023.
Ann-Noel, Lesley, Collie, K., Laker, P., Berry, A., Rittner, J., Walters, K. The Black Experience in Design: Identity, Expression & Reflection, Allworth, 2022
Kolb, A. Kolb, D. The Experiential Educator: Principles and Practices of Experiential Learning , Kaunakakai, 2017
Kothari, A., Sallen, A., Escobar, A., Demaria, F., Acosta, A.. Pluriverso: um dicionário do pós-desenvolvimento. Editora Elefante, 2022