Inovação = Humano + Tecnologia?

gustavo s de borba
3 min readMar 19, 2024

Essa semana postei algumas frases e percepções de palestras do SXSW EDU e do SXSW. Nos posts, não comentei minha percepção, mas fiquei me sentindo na obrigação de colocar em pauta um dos principais pontos que pude perceber nas palestras, especialmente quando o foco é inovação e o debate constante sobre humanidade e tecnologia.

Boa parte das palestras que falaram sobre IA foram bastante diretas em apontar aspectos muito positivos da Inteligência artificial, como a melhoria da produtividade e a melhoria do resultado do que fazemos. Um dos palestrantes chegou a dizer que é um melhor escritor por conta da IA, e que a IA funciona, usando uma metáfora relacionada ao processo de cozinhar, como um mixer.

Na hora que ouvi isso, fiquei um pouco chocado, mas foi importante para que eu pudesse consolidar uma perspectiva que, me parece, está no pano de fundo desta discussão: a ideia de processo e de resultado. E além disso, qual tipo de resultado.

Quando falamos que a IA aumenta a produtividade, ou que cria essa facilidade de rapidamente “misturar” as coisas e entregar algo final como potencialmente melhor do que o que teríamos, me parece que estamos ignorando aquilo que efetivamente dá significado para nossa vida: a ideia de viver o processo.

Para quem gosta de cozinhar, por exemplo, a escolha dos produtos, a organização do ambiente, o preparo, o processo de produção e de organização do prato, tudo isso faz parte de uma experiência que traz valor e prazer.

Ignorar tudo isso e chegar ao final é quase a mesma coisa que buscar um produto pronto nas prateleiras de congelados nos supermercados.

Além disso, o que pensamos quando falamos que a IA nos torna mais produtivo. Ou, quem disse que precisamos ser mais produtivos? Pergunto ainda: não precisamos, em alguns momentos, ser improdutivos?

O processo de inovação pressupõe o tempo para o novo, para a reflexão, para compreender melhor algo que está acontecendo. Produtividade, já sabemos faz bastante tempo, é um indicador muito limitado, que não nos traz necessariamente uma melhora de desempenho interno e também com relação ao mercado.

Pensando nisso e lembrando de outras palestras que vi no evento me dou conta das inúmeras vezes nas quais um humano nos surpreende, trazendo uma resposta ou ideia que não é o esperado.

Lembro agora de um momento na palestra da Batie Wolfe, quando perguntaram para ela como foi trabalhar com o Michael Stipe, vocalista da banda REM. Eu particularmente estava louco para saber mais informações sobre este que é um dos maiores compositores dos anos 80. Ela respondeu: “ele é um cara legal”. E era isso. A partir desse ponto ela levou o debate para o trabalho dela, para o impacto que ela tem.

Este é um pequeno exemplo do que podemos ver em cada uma das centenas de palestras, nos milhares de minutos que temos não apenas no SXSW, mas em cada dia que convivemos com outros humanos.

No final, me parece que estamos debatendo sobre processo e resultado. E o processo importa muito.

Em uma outra palestra ouvi um exemplo de uso de tecnologia em sala de aula que me pareceu fantástico.

A pesquisadora falava de, após a preparação da aula, usar inteligência artificial para identificar pré-requisitos para aquela aula e sugerir leituras, vídeos, etc. Nesse caso podemos ver um excelente exemplo do uso de tecnologia. E não por acaso, esse exemplo está relacionado ao processo, não ao resultado. Aqui, a tecnologia é meio processual para ampliar as possibilidades de aprendizado. Como deve ser.

Precisamos avançar nessa concepção e colocar todos estes conceitos em um alinhamento positivo, que permita aquilo que efetivamente é relevante: a busca por uma melhoria sistêmica das condições de vida para todos.

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Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

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