Identidade
Esta semana tive o prazer de ler, ainda antes do lançamento, o livro “The age of identity: Who Do Our Kids Think They Are . . . and How Do We Help Them Belong?”
O livro do Dennis Shirley e do Andy Hargreaves deve ser lançado até o final deste ano nos EUA, e está em processo de análise para publicação no Brasil. Gosto muito dos textos dos dois autores, e os seus livros mais recentes foram publicados no Brasil em 2022. Tive o prazer de fazer a revisão técnica para ambos.
Quando converso com o Andy sobre os caminhos possíveis para gerarmos inovação na educação, sempre vem para a pauta a importância de gerar engajamento (primeiro livro), trabalhar com a construção de bem-estar (segundo livro) e reconhecer e respeitar as diferentes identidades (este terceiro).
Essas três variáveis se colocam em evidência e articulação, para que possamos construir espaços de ensino e aprendizagem que sejam de fato significativos e transformadores.
Este livro inicia didaticamente construindo um histórico da evolução do conceito de identidade, e tem uma perspectiva interessante sobre quem somos e para quem somos. Os capítulos se desdobram trabalhando o desenvolvimento do eu, a relação entre eu e os outros, a importância de incluir diferente identidades, um olhar para as múltiplas variáveis que definem quem somos e finalmente a ideia de construção de espaços para vivermos e aprendermos coletivamente.
Alguns dos conceitos que estão presentes no livro reforçam questões que precisamos discutir no dia a dia de nossas escolas. Um dos conceitos, de inclusão total, coloca em pauta a amplificação das forças culturais de grupos e comunidades que tem sido historicamente deixadas de lado, marginalizadas, e busca trazer o valor deste processo para o currículo e para a aprendizagem na escola.
Um outro conceito, que foi descrito uns 10 anos atrás, mas possui cada vez mais relevância é o de interseccionalidade, proposto por Kimberlé Crenshaw. Segundo a autora, a interseccionalidade se revela quando determinadas características estão presentes em alguém (por exemplo Mulher e Negra), e por conta do preconceito ocorrem entraves ainda maiores na busca por espaços e reconhecimento. Um dos exemplos da autora em sua palestra no TED é bastante impactante: ela coloca para o público um conjunto de nomes de pessoas pretas mortas pela polícia. Quando são homens, o público conhece, já ouviu o nome antes. Quando são mulheres, a maioria nunca ouviu falar. é um exemplo bastante impactante de como o preconceito se revela ainda mais forte na interseccionalidade.
Mas voltando ao livro, me parece uma boa forma de finalizar uma trilogia que explica um pouco porque a inovação não depende de tecnologia digital, ou de inteligência artificial: cuidar, reconhecer, respeitar, pertencer, são verbos que se realizam na relação humana. E inovar em áreas humanas é sobre isso, reestabelecer relações, vínculos, confiança. Este livro é em certa medida sobre isso. E me parece que nosso futuro passa por este lugar: engajar, gerar bem-estar, reconhecer uns aos outros como diferentes, e com valor.