Humano imperfeito
De onde vem o novo?
A novidade pode ser viabilizada de várias formas, mas geralmente nasce na criação humana. E precisamos pensar no novo, no inovador, de maneira diferente do que temos pensado ao longo do tempo.
Um novo que nos impacta positivamente e respeita todos, inclusive o planeta.
Um novo que se transforma a partir da arte, do incômodo que sentimos quando nos desacomodamos e ouvimos, quando interagimos com o diferente.
Mas esse não é o mundo em que vivemos.
Por enquanto, corremos atrás da busca míope por nossa padronização, especialmente pela busca e necessidade de tecnologia.
Tecnologia que, segundo Jonathan Haidt, pode estar impactado negativamente nossas vidas e nosso olhar coletivo. Desde 2012, temos uma aceleração de transtornos e questões de saúde causadas pela tecnologia.
Da mesma forma, os indicadores de desempenho do PISA, caem continuamente.
Para o autor, que tem como referência a pesquisa de Jean Twenge, este fenômeno está relacionado com uma mudança significativa que tivemos na construção da infância.
Até 2010 tínhamos uma infância baseada no brincar, no jogar com os amigos, na rua. Depois disso, temos uma infância baseada no telefone, nas telas, nos jogos online, no distanciamento do outro, na porta fechada do quarto.
Hoje falamos em chat GPT, em Inteligência Artificial. Falamos com deslumbramento sobre coisas que aceleram a nossa padronização, e que podem levar a idiotização do ser humano.
Tecnologias que consomem o planeta, que a cada dia consomem mais água, recurso escasso e fundamental para nossa vida.
Tecnologias que, à medida que ampliam sua aplicação e ação, garantem em certa medida a continuidade do que sempre tivemos: um grupo específico de pessoas, lucrando mais a cada dia, e soluções para aqueles que têm recursos.
Eu já escrevi muito sobre isso, e estou longe de ser o único.
Esse tema está presente em vários espaços, mas parece que, embora exista uma sensibilização inicial cada vez que lemos ou que aprendemos uma informação que impacta nosso olhar, basta uma novidade que traga algum conforto adicional, geralmente apenas para os privilegiados como nós, que esquecemos tudo.
Eu estou nesse momento lendo a obra de Daniel Levitin, chamada “Eu ouvi que existe um acorde secreto” (tradução livre). O texto fala sobre o impacto da música em nossa vida, especialmente a partir de terapia musical e de seu impacto em nossa saúde. O autor analisa muitos artigos científicos e apresenta caminhos possíveis sobre como a música, em certa medida, pode apoiar um processo de tratamento e eventualmente de cura.
Ele apresenta estudos que mostram como a música pode construir espaços de conexão social e senso de pertencimento. Fatores que são fundamentais para o nosso bem-estar mental.
Na abertura do primeiro capítulo do livro, ele coloca a seguinte frase:
“A ciência busca encontrar a verdade no mundo natural. A arte busca encontrar a verdade no mundo emocional.”
E me parece que nesse espaço habita a nossa humanidade.
Quando pensamos sobre estas questões no campo da educação, fica fácil de entender que este deveria ser o lugar da arte, do brincar, do afeto, do amor, da conexão social, da exploração do novo.
Mas muitas vezes, também por conta da tecnologia, se torna o lugar do padrão, do “normal”, da busca pela repetição, da busca pela certeza.
Por isso acredito que precisamos celebrar a imperfeição que temos como humanos e os caminhos que podemos percorrer, que podemos construir, quando olhamos para a humanidade como um coletivo.
Quando percebemos a imaginação, a criatividade, a ambiguidade como competências nossas e transformadoras.
Quando entendemos que todos somos diferentes e que ser igual é o caminho mais rápido para nossa irrelevância.