Humanizar a tecnologia

gustavo s de borba
2 min readMay 29, 2023

Humanizar a tecnologia. Para mim, não pode existir expressão mais impactante e difícil de compreender, especialmente nos dias de hoje. Em um planeta onde tratamos a natureza como coisa, onde consumimos recursos e ignoramos pessoas em situações vulneráveis, falar em humanizar tecnologia parece mais uma brincadeira de mal gosto.

Nos últimos meses, sinto como se boa parte de nós estivesse transferindo sua humanidade para máquinas, se isolando do contexto das pessoas e se deslumbrando com o que entidades que operam a partir de códigos binários podem realizar.

“Veja a resposta que consegui perguntando para uma IA como convidar alguém para sair”, “olha só as possibilidades que a IA me dá para aproveitarmos a cidade”, “olha esses argumentos para debater sobre aquecimento global que obtive da IA”.

Cada uma dessas expressões, em certa medida, demonstra a busca de um caminho mais fácil e linear. Mais do que isso, demonstra a desistência em lidar com a complexidade e com a beleza da construção humana.

Fico pensando nas inúmeras vezes, por exemplo, em que alguém, em algum lugar do mundo, busca respostas através da inteligência artificial para lidar com problemas de relacionamento humano.

Estamos simplificando relações, terceirizando sentimentos e ignorando que no contexto em que vivemos, precisamos da coletividade humana para criar caminhos possíveis para resolver problemas globais, manter nossa relevância, e manter vivo o planeta. Hoje, a humanidade se relaciona com um turbilhão de informação, de possibilidades, e existe um deslumbramento com a tecnologia em escala muito maior do que tivemos em outros momentos históricos. Nesse contexto, ignoramos o entorno, afundamos dentro das mesmas bolhas e provocamos um processo bastante complexo de humanização da tecnologia, potencializando ao mesmo tempo a desumanização dos humanos.

Com tudo isso, me parece que irá aumentar o valor de uma conversa como fonte de alternativas para a solução de problemas. A surpresa com o argumento do outro, a possibilidade de aprender a partir do desafio colocado para nós por outras pessoas, o sentimento único atrelado ao processo de construir algo novo, tudo isso faz parte das possibilidades que temos na interação com o outro, a partir de uma conversa. Precisamos nos humanizar cada vez mais. Humanizar os humanos, não as máquinas. Elas devem estar a serviço de um projeto de coletividade construindo por nós. Esse me parece um dos caminhos para gerarmos ganhos coletivos e reforçar a nossa relevância.

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Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

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