Garopaba

gustavo s de borba
2 min readFeb 19, 2024

O som do mar.

As ondas agora parecem três notas, semibreves. Uma, duas, três.

Pausa. Pausa.

Lá vem de novo.

Céu aberto, brisa, e até mesmo a irritante caixa de som tocando alguma música aleatória e dentro dos padrões pré-definidos para o sucesso rápido e a obscuridade eterna, fica incompreensível pela força do barulho da natureza.

Algumas crianças brincam, e vejo uma festa de celulares em cápsulas de plástico para que as melhores fotos possam ser tiradas.

O mar tem pelo menos 3 cores, iluminadas pelo sol que brilha intensamente. Azul, verde esmeralda, verde quase transparente.

Barulho de jet sky. No plural. Torço para que tenham algum problema no motor e logo se retirem desse santuário: o que faz com que alguém ache que tem permissão para poluir algo coletivo e colocar em risco as pessoas? Mas eles passam, as ondas seguem. Uma, duas. Silêncio.

O natural é sempre melhor, mais bonito, mais sonoro, mais gostoso. O natural desperta alegria individual e coletiva.

Vejo pessoas aproveitando o seu momento, nadando e se conectando com a natureza. Vejo grupos rindo, brincando, jogando. Não vejo ninguém triste.

Acho difícil alguém vir para a praia buscando aproveitar a tristeza. Mas claro, sei que nenhum de nós pode controlá-la.

Não se escolhe, se sente.

O fato é que nesse momento, 50 pessoas estão felizes na minha frente, aproveitando um momento que deve ficar em suas lembranças.

Talvez nenhuma delas perceba que faz parte desta natureza. Talvez a maioria ache que está aqui aproveitando as belezas naturais. Mas o fato é que quando estamos participando de um espaço e respeitando o que recebemos, cuidando deste espaço, estamos começando a tomar consciência de que somos parte da natureza.

A música ao fundo vai diminuindo, se apagando na insignificância do seu próprio ruído.

Novas ondas. Um, dois, três.

O sol começa a se pôr, e o número de pessoas na praia vai diminuindo. Tempo de silencio. De reflexão. De reconexão.

A única coisa que segue, sem parar, é o barulho das ondas. Um, dois, três.

Escuridão.

Agora são dois pescadores.

Luzes do celular iluminando a água, horas a fio pescando. Céu claro, todas as estrelas visíveis. Constelações que eu já nem sabia que podia ver. A maré sobe. Fico com medo de ficar ilhado na pedra que estamos, tomando um vinho e apreciando a natureza.

Hora de sair.

Novas ondas.

A noite segue.

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Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

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