Garopaba
O som do mar.
As ondas agora parecem três notas, semibreves. Uma, duas, três.
Pausa. Pausa.
Lá vem de novo.
Céu aberto, brisa, e até mesmo a irritante caixa de som tocando alguma música aleatória e dentro dos padrões pré-definidos para o sucesso rápido e a obscuridade eterna, fica incompreensível pela força do barulho da natureza.
Algumas crianças brincam, e vejo uma festa de celulares em cápsulas de plástico para que as melhores fotos possam ser tiradas.
O mar tem pelo menos 3 cores, iluminadas pelo sol que brilha intensamente. Azul, verde esmeralda, verde quase transparente.
Barulho de jet sky. No plural. Torço para que tenham algum problema no motor e logo se retirem desse santuário: o que faz com que alguém ache que tem permissão para poluir algo coletivo e colocar em risco as pessoas? Mas eles passam, as ondas seguem. Uma, duas. Silêncio.
O natural é sempre melhor, mais bonito, mais sonoro, mais gostoso. O natural desperta alegria individual e coletiva.
Vejo pessoas aproveitando o seu momento, nadando e se conectando com a natureza. Vejo grupos rindo, brincando, jogando. Não vejo ninguém triste.
Acho difícil alguém vir para a praia buscando aproveitar a tristeza. Mas claro, sei que nenhum de nós pode controlá-la.
Não se escolhe, se sente.
O fato é que nesse momento, 50 pessoas estão felizes na minha frente, aproveitando um momento que deve ficar em suas lembranças.
Talvez nenhuma delas perceba que faz parte desta natureza. Talvez a maioria ache que está aqui aproveitando as belezas naturais. Mas o fato é que quando estamos participando de um espaço e respeitando o que recebemos, cuidando deste espaço, estamos começando a tomar consciência de que somos parte da natureza.
A música ao fundo vai diminuindo, se apagando na insignificância do seu próprio ruído.
Novas ondas. Um, dois, três.
O sol começa a se pôr, e o número de pessoas na praia vai diminuindo. Tempo de silencio. De reflexão. De reconexão.
A única coisa que segue, sem parar, é o barulho das ondas. Um, dois, três.
Escuridão.
Agora são dois pescadores.
Luzes do celular iluminando a água, horas a fio pescando. Céu claro, todas as estrelas visíveis. Constelações que eu já nem sabia que podia ver. A maré sobe. Fico com medo de ficar ilhado na pedra que estamos, tomando um vinho e apreciando a natureza.
Hora de sair.
Novas ondas.
A noite segue.