Futuro da educação

gustavo s de borba
2 min readFeb 2, 2023

O uso das novas tecnologias sempre desconstrói modelos mentais e causa uma certa insegurança coletiva, que vem da incerteza dos tempos que estão por vir. Já passamos por tecnologias disruptivas (como as presentes na revolução industrial), e outras que não tiveram o impacto esperado (como as fitas Betamax ou o videolaser).

O fato é que estamos, dia após dia, vendo novas tecnologias surgirem, e com suas aplicações, novas possibilidades de mudança do nosso contexto de trabalho e de vida.

Nos últimos anos, com o avanço da Inteligência Artificial, debates como o plágio nas universidades, voltaram para a pauta. Nas últimas semanas, sites de conteúdo em tecnologia(1), de notícias(2) e jornais(3), colocaram em debate a potência existente nestas ferramentas.

Quando vejo um debate sobre o impacto do ChatGPT, por exemplo, no ambiente acadêmico, fico um pouco assustado não com o que pode acontecer, mas com a compreensão, a partir destas preocupações, de que estamos trabalhando de maneira equivocada em nossas universidades.

Um processo de ensino-aprendizagem construído no dia a dia, fluído, que tenha elementos avaliativos conectados à realidade do que foi produzido em aula, e produções práticas e conectadas à realidade dos alunos, não pode ser gerada por computador, por inteligência artificial.

Um texto sobre o futuro das redes sociais, ou sobre o império romano, pode tranquilamente ser produzido. Entretanto, conteúdo relacionado a experiência construída em um ambiente de engajamento, trocas entre alunos e entre alunos e professores, e compreensão contínua da construção dos caminhos de cada um, não será produzido fora deste ambiente.

Talvez fosse até interessante termos ajuda da IA para isso, para consolidar experiências pedagógicas inovadoras, práticas, contextualizadas e de alto impacto. Entretanto, estas experiências dependem da interação, do grupo, do dia, do tempo, do ambiente, do espaço físico, e de tantas outras variáveis, que seria quase impossível simular esse processo.

Mas claro, se voltarmos para a ideia de uma sala de aula tradicional, com um ambiente de separação entre professor e alunos, com pouca interação, com pouco trabalho coletivo, com pouco interesse no que podemos aprender, aí sim vejo muitas possibilidades para estas tecnologias.

Nesses casos, o medo que muitos trazem para a pauta pode se tornar realidade. Mas aí, me parece que não podemos reclamar, pois estes ambientes não são ambientes reais de aprendizagem, e sim simulações de relações hierárquicas, onde um fala e os outros ouvem, onde um entrega e os outros recebem. Uma educação bancária, como dizia Paulo Freire.

Essa educação, não gera aprendizagem, e nesse conceito, já vemos os alunos como máquinas: máquinas de absorver conteúdo.

Tratamos pessoas, como máquinas.

Talvez por isso não devamos nos assustar quando máquinas fingem ser pessoas. Me parece ser o preço que pagamos pela simplificação do ser humano.

  1. https://olhardigital.com.br/2023/01/31/internet-e-redes-sociais/chatgpt-esta-mudando-a-definicao-de-plagio-em-universidades-entenda/
  2. https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2023/01/20/chatgpt-revolucionara-o-ensino-em-universidades-e-escolas.htm
  3. https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/01/preocupadas-com-chatgpt-universidades-comecam-a-rever-metodos-de-ensino.shtml

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

gustavo s de borba
gustavo s de borba

Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

No responses yet

Write a response