Envolver: O mundo em que vivemos está em processo de destruição
Esse processo envolve a perspectiva sempre evidente de desenvolvimento e não de envolvimento, como diria Bruno Latour. Para ele, deveríamos atravessar um processo de mutação cosmológica, que coloca em pauta mudanças nas relações de diferentes conceitos, como espiritualidade, e também a reconstrução de um olhar para o nosso mundo e para a natureza, mas desta vez a favor da Terra(1).
Pensar nessa perspectiva nos ajuda a identificar um caminho através do qual podemos efetivamente transformar. Se compreendermos nossas ações a partir do envolvimento, podemos avançar em uma mudança nos processos de educação, preconizando a ação. Quando olhamos para a ideia de mutação cosmológica e a consequente priorização da Terra, adjetivamos a ação, invertendo a perspectiva anterior de “ação para o mercado”, e pensamos em “ação a favor da vida”.
Essa perspectiva, quando desvela as infinitas possibilidades que temos nos currículos, nas atividades em sala de aula, nos processos de interação social, possibilita uma mudança significativa na concepção da educação. Educação passa a ser um processo social de envolvimento e construção de uma compreensão coletiva, mútua, pluriversal, de bem-estar para todos, especialmente para a Terra.
Talvez a forma mais direta de pensar isso é a partir de uma perspectiva de experiência. Como podemos promover uma educação transformadora, a partir da experiência, com as premissas que apontamos nos parágrafos acima?
Elementos essenciais para esse debate incluem a tecnologia, as relações, o bem-estar e o pertencimento. Nesse contexto perde valor a dicotomia, e ganha valor a rede. Perde valor a separação, o isso ou aquilo, e ganha valor a integração, o envolvimento.
Essa teia de relações tem capacidades e potenciais infinitos. Se puxarmos, por exemplo, a tecnologia, a rede se reconfigura, e os espaçamentos se transformam. Se puxarmos as relações sociais, muda o protagonismo, e a teia se regenera. Não existem respostas, mas possibilidades latentes para uma transformação sistêmica e inovadora. Nesse caso, inovadora na perspectiva da impossível padronização e da novidade a cada diferente pulsar, a cada diferente caminho que se constrói pelo rearranjo deste sistema.
O essencial aqui é envolver, envolver-se, fugir das dicotomias e abraçar a compreensão de que todos precisamos reconhecer o potencial esgotamento do planeta e a necessidade de reinventar a educação. Sem isso, não temos futuro.
Fontes:
(1) Instituto Humanitas Unisinos. A Terra grita. Entrevista com Bruno Latour. 2022. Entrevista original: Antonio Spadaro, SJ, publicada por La Civiltà Cattolica, n. 4.125, 07–05–2022. Tradução Moisés Sbardelotto.
(2) Later, Bruno. Down to Earth. Politics in the New Climatic Regime. Polity; 1st edition (November 12, 2018)