Educar

gustavo s de borba
2 min readAug 26, 2024

A vida se expressa o tempo todo. Na mágoa, na tristeza, na alegria, no perdão, na gratidão.

Penso nisso quando organizo algumas ideias para o semestre de aula, e penso que cada um daqueles alunos que vai partilhar o seu tempo comigo, tem uma série de questões pessoais, profissionais, sociais, que fazem parte de quem são.

Ninguém vem vazio para a aula.

Ninguém vem igual ao semestre anterior.

Entender que cada aluno tem a sua complexidade, as suas necessidades e diferentes interesses e histórias, é fundamental para promover uma educação que transforme. Sem isso, entregamos um padrão, e o padrão não serve para quase ninguém. Ou melhor, não serve de fato para ninguém.

Pensar na sala de aula, ou pensar na aula, envolve pensar no outro. Envolve entender, projetar, co-criar.

Tudo isso é fundamental para que possamos gerar o motor do processo de aprendizagem: o engajamento de nossos alunos.

Sem engajamento, não temos interesse, sem interesse, não temos aprendizagem.

Quando eu entendi esta perspectiva, a partir da experiência, do convívio com grandes educadores e da leitura de pesquisadores da área, como meus amigos Andy Hargreaves, Dennis Shirley e Alice Kolb, minha ação como professor se transformou.

Compreendi que ensinar é um processo que passa pela construção com o outro e que, quando levamos algo pronto, achando que podemos aplicar isto para todos, nosso impacto é limitado.

O ato de educar é o ato de promover relações positivas e de construir conhecimento.

Educar é projetar coletivamente, é ouvir, propor, aprender, mudar.

Um professor que não vive um ciclo de aprendizagem constante, provavelmente não consegue ensinar, pois alguém que se fecha para o novo, para entender o outro, perde algo que considero fundamental para nossa ação como professores: a curiosidade e o desafio de ir além do que já fizemos. Ir além do que já fizemos é o que explica porque cada semestre é um novo semestre, e não o mesmo. São novas pessoas, novos contextos, novas formas de interagir e de construir coletivamente.

Mesmo que tenhamos em boa medida o mesmo conteúdo, os processos de discussão e produção de conhecimento são diferente e co-dependentes de nossa ação, da interação, de cada uma das pessoas que está na sala e do coletivo que se forma no grupo.

Agora volto para pensar minha disciplina.

Busco encontrar as brechas que permitem que o novo apareça. Busco abrir as novas possibilidades, e no final, entender que tudo isso pode mudar.

Todo o planejamento que faço é uma proposta que já nasce na certeza de não se realizar, pois precisa ser no mínimo adaptado a realidade daqueles com os quais irei compartilhar um turno por semana. E essa, para mim, é a melhor forma de planejar: aprendendo com o que propomos e construindo com aquelas pessoas que vão compartilhar seu tempo neste semestre.

Todo ano, toda nova turma, é uma surpresa para mim, mas com uma única certeza: é sempre uma nova oportunidade para aprender e ensinar.

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gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.