Ecossistemas de inovação — que conceito é esse?

gustavo s de borba
3 min readJul 15, 2024

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Minha experiência nesse semestre com 22 pessoas inovadoras.

Eu trabalho no campo da inovação faz mais de 25 anos. Como professor do mestrado, nos últimos 15 anos tenho discutido este tema com meus alunos, em uma disciplina que avança ao longo do tempo e que atualmente se chama ecossistemas de inovação e co-criação.

Faço essa breve introdução para colocar em pauta a importância da renovação do conceito que dá nome para este texto. Historicamente ele está relacionado a conexão e articulação de atores sociais que promovem inovação e desenvolvimento. No campo da gestão, espaço de maior apropriação deste conceito, esse debate circula em áreas como economia, administração, e encontra caminhos em conceitos como Hélice tríplice (ou quádrupla) e no debate de sistemas de inovação globais (como os descritos na série de livros da Unicamp os clássicos da inovação).

Autores como Chris Freeman, Richard Nelson, Giovanni Dosi, Nathan Rosenberg, Henry Etzkowitz dão o tom do debate histórico e as bases para a construção do tema em nossas salas de aula.

No início, montei minha disciplina assim. Segui a lógica e construí um curso com foco no que precisa ser compreendido em termos de inovação e ecossistemas, a partir das bases teóricas vigentes e disseminadas em nosso meio.

Demorou um tempo para que eu percebesse três coisas.

A primeira delas é que temos uma tendência a normalizar e entregar informações sobre um único universo, uma única forma de ver o mundo, que deveria servir para todos. Por isso todos os alunos precisam “compreender essa base” para entender o tema.

A segunda é a falta de escuta: quando temos 25 alunos em uma aula de mestrado, será que todos dividem a mesma base teórica? Os mesmos modelos mentais? Provavelmente não.

A terceira e mais impactante é a falta de crítica que temos quando avaliamos quem são e quem representam os autores que usamos. O respaldo acadêmico aponta para um conjunto de nomes de excelência, mas com algumas particularidades: pessoas já muito experientes, com uma visão de mundo formada, do norte global, homens, e brancos.

Faz alguns anos que me dei conta disso e transformei a minha disciplina a partir da noção de pluriverso (da ideia de que temos muitos mundos dentro deste nosso mundo) e também da importância de termos uma base teórica diversa. Hoje a base são 10 autores:

5 homens, 5 mulheres. Dentre as mulheres, uma mulher negra, que foi a autora mais celebrada do semestre e que certamente trará o maior impacto nas dissertações dos alunos: Lesley Ann-Noel. Um autor indígena, o Ailton Krenak, que nos ajuda a compreender a noção de ecossistema para além da perspectiva antropocêntrica. Sei que temos muito que avançar ainda em termos de diversidade, mas estamos no caminho. Começamos com o Chris Freeman, mas avançamos por caminhos que nos levaram para a Donella Meados, para o Roberto Verganti, o Tony Fry, a Kate Holmes, a Elke Ouden, e, para além desta base, para 25 autores escolhidos pelos alunos, cada um a partir do seu olhar e celebrando o conceito do livro Pluriverso.

Uma disciplina que teve uma base teórica robusta e um debate maduro, a partir de uma conversa construída por um grupo de pessoas que se colocou integralmente naquele momento da aula e para além dele.

Foram 35 autores e 22 protagonistas: Rodrigo, Dani, Saimon, Nati, Renata, Bianca, Felipe, Karen, Tati, Alice, Carla, Aline, Isa, Diuly, Melissa, Ju, João, Douglas, Lis, Jean, Lucas, Jorge.

Foi um baita semestre e tenho certeza que fizemos o que de melhor podemos fazer em uma sala de aula: nos engajamos, pertencemos e produzimos conhecimento coletivo.

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Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

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