Douglas Rushkoff no Fronteiras do Pensamento

gustavo s de borba
3 min readSep 15, 2023

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Essa semana tivemos mais uma palestra do Fronteiras do Pensamento.

Tive o prazer de fazer a mediação em Porto Alegre e também de realizar um evento com o palestrante, em São Paulo, no Hotel Matarazzo.

A maneira mais impactante de introduzir o Douglas Rushkoff, nosso palestrante, é dizendo que ele está na lista que o MIT publicou de 10 intelectuais mais influentes da atualidade (ver link no final do texto). Entretanto, qualquer uma das centenas de ideias que ele compartilha em suas falas já seria suficiente para respeitá-lo e querer ouví-lo mais e mais. Imaginem o que foi para mim poder compartilhar o palco com ele em dois momentos, e interagir em vários outros.

O Douglas é uma pessoa humana com alta sensibilidade, que realmente acredita que precisamos construir um processo de re-socialização humana para a transformação coletiva.

Dentre as ideias que ele compartilhou, vou colocar aqui apenas uma delas, que me fez refletir sobre o que realmente buscamos. Todos conhecemos a lógica binária das máquinas, as possibilidades discretas que estão presentes em pontos distantes e não conectados. Essa característica avança para a construção dos mercados e aterrisa na perspectiva fundante do que vivemos: a ideia de probabilidades.

Na visão do autor, máquinas e a tecnologia, muitas vezes avançam para tentar obter uma maior probabilidade de prever como iremos nos comportar. Quanto mais parecidos formos, melhor para o sistema, e mais possibilidades estarão disponíveis para nós. Mas sempre dentro de grupos predeterminados e muitas vezes conectados a uma perspectiva de consumo.

Redes sociais, algoritmos, inteligências (se existem) artificiais, buscam isso: nos colocar em um grupo, compreender melhor estes grupos e não cada um de nós, e nos convencer que este é nosso lugar. A questão é que, geralmente, quando nos colocam nestes espaços, nestas bolhas, a nossa diversidade, nossa individualidade e, por que não, nossa alma, desaparecem.

Para o autor, nós não somos probabilidades, mas sim possibilidades.

E isso para mim é a essência da vida humana: a possibilidade de conexão com o outro, a possibilidade do novo em cada interação inesperada, em cada encontro.

Algum tempo atrás eu escrevi sobre a potencial inovação nos encontros inesperados, pois nestes, revelamos possibilidades que não ocorrem no nosso dia a dia. E me parece que nesses encontros, desafiamos os algoritmos.

No amor, na escuta, na compreensão do outro, e acima de tudo na interação social, somos possibilidades que não se repetem.

Somos fluxo, somos potencial, somos processo. Quando estamos formatados, somos produto, somos resultado.

E a vida humana? A vida humana é encontro, desencontro, fluxo de possibilidades, de incertezas, de momentos que se consolidam a partir de caminhos e espaços inexplicáveis.

Quando reconhecemos isso, nos percebemos diferentes e valorizamos ainda mais a relação com o outro. E é desse lugar que sempre vem o novo. Da probabilidade, vem o igual e a busca pela certeza.

Para o algoritmo, a melhor probabilidade é a exatidão, o fim da incerteza, o 100%. Para os humanos, o melhor é a surpresa, a pausa, a reflexão, aprender.

Me parece que por isso nunca teremos uma verdadeira inteligente artificial, pois a inteligência é processo, possibilidade. E a vida não é artificial. Na máquina, não existe alma, não “bate o santo”. E para que isso aconteça com as pessoas, elas precisam estar no coletivo.

Acho que por isso o Rushkoff define a humanidade como um jogo coletivo. E acho que esse é o nosso jogo, um jogo onde as máquinas não tem como nos vencer.

Referência:

World’s most influential thinkers revealed: https://www.technologyreview.com/2013/08/09/177043/network-analysis-reveals-worlds-most-influential-thinkers/

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Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

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