Design para quem e com quem?
O campo do design é um espaço transformador. Isso porque a absoluta maioria dos artefatos e das coisas com as quais interagimos, de alguma forma, foi projetada. E esse processo de projetação impacta na forma como vivemos e convivemos.
É importante dizer que o Design, ao longo do tempo, se ressignificou, dependendo da compreensão teórica e da noção do papel dos projetistas e consumidores, ou dos projetistas e das pessoas.
Por conta disso, falamos muito em design centrado no usuário, um conceito que foi amplamente disseminado e serve para favorecer um processo de projetação que prioriza a construção de propostas para clientes.
Alguns autores desafiaram esse conceito avançando para uma proposição que nasce no bom senso, mas se perde no foco que temos no mercado: não deveríamos falar em usuários, mas em pessoas, e centrar nosso processo de projeto no humano. Trabalharíamos, nesse contexto, em um processo de design centrado no humano — Human Centered Design.
O debate nesse campo passa por autores como Klipendorff, Donald Norman, Roberto Verganti, e empresas como Ideo, além de muitas escolas de design mundo afora.
A grande questão que se coloca para nós é que, independente de qual das abordagens acima estamos priorizando, acabamos avançando na compreensão de que tudo no planeta está a nossa disposição. Avançamos em uma perspectiva de que o humano é superior e os recursos necessários para nos atender devem estar disponíveis a partir de diferentes fontes.
Essa lógica do design, que é ainda a principal especialmente no norte global, reforça um caminho sem volta, um caminho que prioriza a satisfação humana e permite a deteriorização da natureza. Assim, a perspectiva hegemônica do Design dialoga com o conceito de Antropoceno e reforça a construção dos dualismos vigentes, especialmente a ideia de humanos versus natureza.
Se projetar é preciso, precisamos pensar em uma perspectiva centrada na natureza, algo como um Nature Centered Design, pois esta compreensão acaba nos incluindo. Como diz Ailton Krenak, é difícil acreditar que algo que vive na natureza não faz parte dela. Somos natureza.
Projetar com esse olhar nos permite revisar modelos e pressupostos, reduzindo os vieses de projeto e compreendendo os limites de nosso papel no planeta.