De agentes de mudança para agentes de cuidado

gustavo s de borba
2 min readMar 19, 2025

Um dos meus pesquisadores favoritos é o Douglas Rushkoff. Isso porque, além de ter uma capacidade única para promover novas possibilidades e compreender o que vivemos, ele é autêntico e humano.

Foi assim que tive o primeiro contato com ele, quando em 2022, após ler o livro Survival of the Richest, escrevi despretensiosa para ele perguntando se poderíamos conversar e gravar um episódio do podcast Edu Voices, que criei em 2019.

Ele aceitou prontamente, conversamos, e a partir daí ampliamos as possibilidades de conexão. Ele veio para o Brasil para ser palestrante em um dos melhores eventos que temos, o Fronteiras do Pensamento. Passamos alguns dias juntos entre São Paulo e Porto Alegre, e agora nos reencontramos em Austin, no SXSW.

Essa forma de ser, autêntico, parceiro, aberto para conhecer novas pessoas e desenvolver novas conversas, dialoga com tudo que ele faz.

Estou contando um pouco desta história para dizer que alguns dos insights que o Rushkoff teve, e tem, ao longo do tempo, acabam nos trazendo possibilidades de novas construções.

Foi assim quando ele criou o conceito “mídia viral” e também “moeda social”. E foi assim também, neste março de 2025, quando ele trouxe para a pauta algo que já havia aparecido em seu Podcast Team Human, em Janeiro e também no Substack, em meados de fevereiro: a importância de pensarmos no In-between.

Esse conceito está em vários campos, incluindo a antropologia. Lembro aqui do antropólogo Tim Ingold, citado por Ibarra, falando sobre o ato de caminhar. Nesse processo "alguém caminha" e o "caminhar o caminha". Ibarra diz que para Ingold não é um ou outro, tão pouco a relação dos dois, mas o que está In-between.

Olhando a partir da complexidade, podemos pensar na perspectiva da sobreposição, da correspondência que se cria, por exemplo, entre notas para formar um acorde.

Rushkoff trouxe essa perspectiva e colocou em pauta algo que considero o grande ponto para discutirmos nesse ano de 2025: a necessidade de mudarmos nosso modelo mental e sairmos de um espaço de agentes de mudança para uma perspectiva de agentes de cuidado.

Considerando tudo que vivemos atualmente, que inclui: as questões de saúde mental, o uso de IA em diferentes espaços, a construção de novas plataformas que acabam nos isolando, precisamos ir além.

Se em um momento anterior, onde tínhamos pelo menos a percepção da autenticidade de algumas instituições e buscávamos desenvolver a mudança, era fundamental essa construção social, hoje precisamos cuidar de nós mesmos e dos outros.

Precisamos dentro de nossa humanidade enfatizar o cuidado e sermos protagonistas nisso.

Essa proposta me fez pensar muito.

O mundo pega fogo, mas aqui do lado tem alguém precisando de cuidado.

Talvez seja hora de voltarmos nosso olhar e nossas ações para o nosso entorno e criar comunidades de cuidado.

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Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

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