Dançar

gustavo s de borba
2 min readNov 6, 2023

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Desde ontem fiquei pensando em algo que sempre me apavorou: dançar. Isso porque, enquanto passeava na Orla do Guaíba com a Aninha e o Andy, professor que está visitando a Unisinos, eles começaram a falar da importância da dança como atividade física e mental, e contaram histórias sobre momentos inusitados de dança.

Essa conversa se perdeu dentre as inúmeras coisas que conversamos próximos ao pôr do Sol no Guaíba, mas me lembrei novamente daquele momento hoje, quando estava voltando no ônibus para casa. Fazia tempo que não pegava um ônibus lotado no final de tarde. À medida que tentava chegar ao fundo, desviando dos corpos e obstáculos como bolsas e mochilas, lembrei dessa dança que precisamos fazer para tentar ocupar pequenos espaços. Chegando perto do fundo, parei e me tornei um dos obstáculos, pois andar no ônibus é um eterno calcular sobre: o número de pessoas x o local no ônibus em que estou parado x o tempo e número de paradas para descer. Ficar muito no fundo aumenta o potencial risco de perder a parada.

Pensei nisso bastante no caminho, lembrando das canções que animavam as noites em Santa Maria, na época em que eu ainda dançava alguma coisa: Erasure, Depeche Mode, EMF, Madonna, Prince, entre outros. A música mais celebrada que fala sobre dançar não é dessa época, foi composta e gravada em 1958 por Bobby Freeman, o sucesso Do you Wanna dance? Essa música foi regravada por muita gente, incluindo Ramones, Beach Boys, Johnny Rivers, entre outros.

Mas meu foco aqui não é contar a história da música, tão pouco dizer que sei dançar porque consigo me posicionar rápido no fundo de um ônibus. Falo aqui da importância deste tipo de expressão corporal, dançar, para desenvolvermos mais conexões. No meu caso, sempre foi difícil. Mesmo no casamento, tentei terceirizar a valsa para um colega que dançava muito bem. Nesse caso, não era por vergonha, mas por querer dar para a Aninha a melhor valsa, já que ela adora dançar. Mas claro que isso não se resolve na matemática — ela não se importa com os meus defeitos, desde que eu tente.

A dança, a poesia, a música, a arte, são formas de nos expressarmos e de nos colocarmos no mundo. Não precisamos dominar todos estes campos de expressão, na realidade não precisamos dominar nenhum, mas é importante estarmos abertos para aprender e reconhecer novas possibilidades, que criam relações entre nosso corpo e mente.

Para mim, tocar violão tem essa função. Mesmo sabendo que não teria muito sucesso como cantor ou instrumentista, alguns de vocês já ouviram eu dizer que minha mãe deixou isso bem claro pra mim anos atrás, as músicas que toco e canto em casa me ajudam a abrir minha perspectiva para novas possibilidades a partir das vulnerabilidades que se apresentam.

Mas dançar, dançar é um desafio maior. Acho que sigo com o exercício durante os meus 30 minutos dentro do ônibus todo dia.

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Written by gustavo s de borba

Professor da Unisinos na área de Design. Escrevo aqui sobre o cotidiano, em um diário do período de pandemia, com textos de um ano atrás.

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