Caminhos para inovar
A cada dia que passa tem sido mais fácil perceber alguns dos efeitos colaterais potenciais dos processos de inovação, como a concentração de riqueza e a destruição ambiental. Por conta disso, é necessário repensarmos nossos processos, compreendendo novamente conceitos básicos, como: o que é valor? Inovamos para quem? Vivemos em um universo, ou em múltiplas possibilidades representadas por pluriversos? Devemos considerar os acionistas ou os stakeholders?
Estas, dentre tantas outras perguntas precisam ser respondidas para que tenhamos no presente, novas possibilidades para nosso futuro. Para isso, precisamos mudar a lógica de desenvolvimento acelerado que remete para o foco no resultado, exponencial, para as empresas.
Alguns autores tem mostrado os impactos do crescimento desenfreado das corporações ao longo dos anos. Yancey Strickler, fundador da kickstarter, em seu livro This could be our future descreve com dados do bureau of labor statistics como ao longo do tempo o trabalho se desvalorizou, ao mesmo tempo que a produtividade avançou. Segundo os dados, enquanto de 1948 a 1973 o valor de hora dos funcionários aumento 90%, de 1973 a 2017 aumentou apenas 9%. Já a produtividade, dobrou.
Quando pensamos nos espaços de plataforma e nos ambientes digitais, temos ainda mais variáveis que devem ser contempladas. Estes espaços nasceram com um ideal de colaboração que foi substituído ao longo do tempo por um espaço de predição, padronização do que sentimos e queremos, com foco em criação de valor para as empresas.
Enquanto alguma corporação tenta continuamente nos vender algo que na maioria das vezes não fazia parte das nossas necessidades, corremos em paralelo, em uma economia de criação que valoriza o indivíduo, o próximo grande nome de determinada rede.
Mas inovar é um processo de grupo e colaborativo, que deve ter resultados também coletivos.
Por conta disso, precisamos repensar estes processo. Olhar para pluriversos, como dizem autores como Arturo Escobar, Renata Leitão e Lesley Ann-Noel, considerar a ancestralidade e a necessidade de compreender a Terra a partir da uma perspectiva diferente, como propõe Ailton Krenak e David Kopenawa, são caminhos fundamentais.
Precisamos pensar em nós, não apenas no “eu”, hoje e no futuro, como preconiza Yancey Strickler em seu livro.
Em ultima instância, precisamos superar esta era do individualismo, que nos coloca uns contra os outros, um universo onde vencemos quando vendemos. Como diz Rushkoff, fazemos empresas não para ficar com elas, mas para vender rápido pelo máximo de recursos possíveis. Esse processo não é sustentável e gera riqueza localizada.
A inovação deve estar a serviço da sociedade, respeitando a natureza e trazendo ganhos coletivos.
Para saber mais:
Escobar, Arturo. Designs for the Pluriverse: Radical Interdependence, Autonomy, and the Making of Worlds. Duke University Press; Illustrated edição (22 março 2018)
Krenak, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo
Kopenawa, David e Albert, Bruce. A queda do céu. Companhia das Letras; 1ª edição (20 agosto 2015)
Leitão, Renata(2020) Pluriversal design and desire-based design: desire as the impulse for human flourishing, in Leitão, R., Noel, L. and Murphy, L. (eds.), Pivot 2020: Designing a World of Many Centers — DRS Pluriversal Design SIG Conference, 4 June, held online. https://doi.org/10.21606/pluriversal.2020.011
Noel, Lesley-Ann, and Tulane University. “Envisioning a Pluriversal Design Education.” Pivot 2020: Designing a World of Many Centers, 2020. doi:10.21606/PLURIVERSAL.2020.021.
Strickler, Yancey. This Could Be Our Future: A Manifesto for a More Generous World. Viking; First Edition (October 29, 2019). Companhia das Letras; 2ª edição (24 julho 2020)