A inatividade
Hoje pela manhã eu estava lendo o livro O ato criativo: uma forma de ser, de Rick Rubin. Ainda nas primeiras páginas, enquanto fala do processo de criação, ele escreve sobre a importância da abertura para o novo e também de captarmos um sinal, entrar em sintonia. O autor pergunta como podemos captar algo que não pode ser ouvido ou definido? E responde dizendo que o caminho é não procurar por ele.
Lendo esta proposta, que à primeira vista parece não fazer sentido, lembrei do livro Vita Contemplativa de Byung-Chul Han, onde ele fala da importância da inatividade como caminho para o novo. Segundo o autor, vivemos em uma sociedade onde não escutamos, apenas produzimos. Essa lógica de produção apaga os potenciais espaços de espera, de escuta, de contemplação. E é nesses espaços que pensamos e criamos.
Para mim, uma das passagens mais impressionantes do livro é o momento em que o autor diz que o tédio constitui o “lado externo do acontecimento inconsciente”. Assim, sem o tédio, nada acontece.
Embora os autores, nos dois livros, percorram caminhos distintos, ambos levam para um espaço de fundamental importância e que é atualmente ignorado quando pensamos no novo: o espaço da contemplação, da espera, da escuta, do estar presente sem buscar nada específico. Estar naquele lugar apenas estando.
Ao longo do tempo, e especialmente com a evolução tecnológica e digital, perdemos esse espaço. Tudo está preenchido.
Tudo.
Olhamos para o lado e vemos algo disputando nossa atenção com outras tantas coisas, objetos materiais, que apagam a nossa subjetividade. Tudo é luz, intensidade, ação. Nesse lugar, repetimos, produzimos. Passamos o tempo.
Compreender que o ato de criar pressupõe a escuta, o silêncio e a espera pelo nada é fundamental, mas como efetivamente ocupar esse lugar?
Aqui, cabe uma reflexão importante sobre a noção de pausa, de parada.
Estamos todo o tempo absorvendo, recebendo sinais, ruídos e possibilidades. Tudo isso se materializa no nosso dia a dia e disputa espaço com as nossas ações produtivas, que nos levam para o resultado, o produto, a entrega. Entretanto, sem criar um momento de pausa, não conseguimos refletir, e sem reflexão, dificilmente criamos algo diferente.
Me parece que está aí o ponto de maior valor para a inovação: o desenvolvimento do vazio, da espera incondicional, da parada sem buscar nada. Mesmo em processos mais pragmáticos de solução de problemas e de inovação, precisamos de alguma forma instituir esses espaços, para gerar a possibilidade da novidade. Se continuarmos acreditando que a produtividade é o grande indicador que demonstra nosso valor, continuaremos iguais, produtivos na coisa e improdutivos no pensar. E algo assim, já existe. São as máquinas. Nós não somos máquinas. Somos humanos.
Para saber mais:
Byung-Chul Han. Vita contemplativa ou sobre a inatividade Editora Vozes; 1ª edição (12 julho 2023)
Rick Rubin. O ato criativo: uma forma de ser. Editora Sextante; 1ª edição (10 julho 2023)