A dinâmica da criatividade humana
Um dos temas que mais tem despertado interesse na formação de pessoas é a busca por processos que nos tornem mais criativos.
No campo do design, esse é um tema corrente e são muitos os caminhos possíveis para desenvolver produtos e serviços a partir de um olhar humano e criativo. Processos reconhecidos como “design thinking”, a perspectiva de “design estratégico”, entre tantas outras, são bons exemplos.
Mas o ponto principal para compreender como podemos ampliar nossa criatividade foge dos processos lineares e dos métodos passo a passo e se constrói na dinâmica que desenvolvemos nos espaços onde interagimos.
Obviamente, existem parâmetros base e etapas gerais de um processo: eu não vou buscar alternativas de solução, por exemplo, antes de descobrir mais sobre potenciais questões problema. Mas independente da macro etapa, a criação se revela no humano. A criatividade se revela na interação com o outro, especialmente quando interagimos com o diferente.
Pensar em grupos criativos formados apenas por “criativos clássicos”, como pessoas com formação em design, comunicação, etc, não me parece o melhor caminho.
A criatividade surge no incômodo, no diferente, no estranhamento. Assim, faz muito mais sentido trabalhar com grupos diversos, inclusive nas formações.
Por conta disso, quando me perguntam sobre qual o melhor processo criativo, quais as etapas para definir um caminho que nos leve aos melhores resultados, eu devolvo a pergunta apontando em outra direção: quais as dinâmicas para criatividade?
Mais uma vez, não existe receita, mas existem alguns pressupostos importantes para considerarmos, os quais podem sim nos apoiar no desenvolvimento da criatividade:
- Diversidade: grupos diversos possuem maior potencial de geração do novo.
- Escuta ativa: a melhor forma de internalizar uma ideia, de conectar ela com o que pensamos, de desafiar nossas certezas, é a abertura para a escuta.
- Construção de um processo de conversational learning: a conversa é um dos motores da construção do conhecimento. O conceito de conversational learning, desenvolvido por pesquisadores como a Alice Kolb, nos ajuda nessa construção horizontal.
- Senso de pertencimento, bem-estar e engajamento: estes elementos são fundamentais para que conversas de aprendizagem se desenvolvam. Precisamos pertencer, nos sentir bem, para que estejamos engajados na construção do novo.
Estes 4 elementos podem ser compreendidos como transversais e definidores das dinâmicas que acontecem em processos com diferentes etapas. Isso porque, como dito anteriormente, não se trata de conhecer ou aplicar uma etapa ou outra, mas das conexões, da teia que se desenvolve nas interfaces.
Ser criativo é conviver, ouvir, propor. Envolve explicitarmos nosso conhecimento tácito, gerar o conhecimento do grupo, e construir o novo.
Depende do diferente, do novo, da nossa abertura e de um olhar coletivo.
Essa compreensão, em realidade, vale para quase tudo em nossa vida. Talvez isso explique porque as pessoas hoje se preocupam em como desenvolver a criatividade. Nos últimos anos, nos fechamos para o diferente, na maioria das vezes conversamos com pessoas que pensam como nós, buscamos o conforto da repetição das certezas. Isso nos afasta da nossa criatividade, da nossa humanidade e nos leva para um processo de padronização perigoso.
Se formos todos iguais, nossa relevância diminui.